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Memórias Literárias e Agregadas

Ana Maria Siqueira Silva

Mãe do Víctor e do Vinícius. Dois gênios artistas, para quem dedico minhas memórias.

[Mestranda em Ensino na Educação Básica pelo CEPAE-UFG .

Pedagoga, graduanda em Filosofia e professora na Educação Básica, nas redes municipal e

estadual em Goiânia, Goiás.]


Mary Baleeiro. Aquarela Ana Maria.fev.2019 15x21

Tive a honra de ser escolhida pela Karol, para escrever um ensaio de

memórias literárias. Ela não sabe, mas me pediu para afiar uma faca e me

cortar com ela toda e depois, fazer um bolo de chocolate com os retalhos das

minhas carnes. Podem achar que eu estou loucamente exagerando, com

razão, porque é verdade. Esse ano eu realizei o sonho de iniciar o mestrado

que vinha tentando há 10 anos, mas ao mesmo tempo fiquei insana,

desesperada porque minha família entrou em colapso por causa de memórias.

Memórias que para mim eram bonitas, para outras pessoas da minha família

eram terríveis e responsáveis, inclusive, por crises de pânico e terror. As

mesmas memórias, olhadas de pontos de vista diferentes, que se mostraram e

derrubaram nossas estruturas. Desse modo, sem querer, a Karol me colocou

para restaurar memórias positivas e reestabelecer laços memoráveis de

infância comigo mesma e com a minha família.

Primeiramente, pediu-nos para definir memória, mas eu não sei definir.

Talvez porque essa seja uma dessas palavras indefiníveis, porque participam

de um mundo para além do que é físico e que preserva da morte o que é

importante para nós. Talvez seja um dispositivo capaz de trazer o passado de

volta em forma de imagens preservadas em nossa mente e talvez esse

dispositivo tenha a capacidade de, a partir dessas imagens de acontecimentos

que foram reais, criar e imaginar coisas novas para que possamos ver o mundo

de outra forma. Às vezes melhor, às vezes pior, dependendo do nosso estado

de ânimo.

Comumente, o que é memorável o é porque ocorreu em companhia de

outras pessoas. Mas, normalmente, há discrepâncias entre as lembranças dos

mesmos acontecimentos vividos, cada um tem sua memória particular.

Sobre as minhas memórias em relação à formação como leitora, posso

dizer que comecei a frequentar a escola na época da ditadura. Minha

formação, se não foi diretamente influenciada por esse regime, foi

indiretamente, porque meus professores certamente receberam formação mais

tecnicista que a minha. Para acabar de completar, isso se deu numa cidade do

interior de Goiás. Fui formada dentro da mentalidade de que ser professor é

para as pessoas que não conseguiram ser médicas, engenheiras, dentistas,

porque no imaginário das pessoas dessa época , essas profissões mais bem

conceituadas são as que rendem mais dinheiro. No caso das artes e da

música, já seria muito pior: coisa para quem não quer trabalhar.

A Karol me pediu para escolher objetos que contassem minha trajetória

de leitura e eu escolhi uma lamparina (de querosene – aquela que deixa o nariz

cheio de fumaça preta), porque era à luz dessas lamparinas que meu pai e

minha mãe liam à noite pra mim e meus irmãos, como também era à noite, à

luz dessas lamparinas que aconteciam as sessões de contação de histórias,

pelos viajantes e vizinhos, em especial o Seo Florentino, um velhinho

engraçado e contador de histórias, que sempre aparecia em casa e contava

inúmeras histórias inventadas, que nunca se repetiam. Uma caixa (baú) que

tinha múltiplas funções na minha casa, como guardar coisas, móvel que minha

mãe utilizava para passar roupas com ferro a brasa, e mesa de estudos para

mim e meus irmãos, meias, pra leitura ser com os pés quentinhos em dias frios

e de chuva, chocolate, chá, uma janela do lado e, por fim, um dicionário, um

caderno, lápis, borracha e apontador, pequenos objetos que me acompanham

até hoje. Uma ressalva para o dicionário que agora é a internet mesmo.

Escolhi como pessoas importantes na minha trajetória como leitura, meu

pai e meu filho mais velho, o Víctor. Meu pai porque foi a pessoa mais

importante na minha trajetória como leitora. Morávamos na zona rural, quando

eu era pequena e, antes que fosse para a escola (que ele reativou, por meio de

muitos esforços para sensibilizar a comunidade e as autoridades da época), pai

comprou alguns livros infantis, os quais ele e minha mãe liam para mim e meus

irmãos, à noite. Um tempo depois, ele se inscreveu num tipo de “clube do livro”

em uma biblioteca da cidade mais próxima (Silvânia), no qual levava 5 livros e

tinha direito a trocá-los toda semana. Por um bom tempo ele aparecia em casa

com livros diferentes para ler pra gente. Eram livros de literatura infantil,

normalmente os clássicos de Andersen e dos Irmãos Grimm. Líamos à noite à

luz de lamparina, porque meu pai trabalhava durante o dia todo na roça. Ele

também escrevia poemas nessa época e eu achava isso incrível. Ele

participava também de um programa cultural da extinta Caixego, o qual

disponibilizava um álbum de figurinhas e histórias que eram montadas à

medida em que se entregava uma latinha de moedas, juntadas ao longo de um

certo tempo. Meu pai foi uma referência pra mim, por toda a vida, porque

mesmo em uma dificuldade brutal, não perdia o gosto pelas histórias e pelos

poemas. Meu pai me contou que, infelizmente, com a chegada da televisão, o

meu gosto pelas leituras diminuiu drasticamente, quando eu era pequena.

Infelizmente, como minha primeira educação foi no final e logo após a

ditadura, só tive contato com obras clássicas importantes depois que fui para a

faculdade. Costumo dizer que sou filha da ditatura e que, por isso, minhas

leituras são deficientes. Li muito autoajuda e literatura espírita logo depois que

terminei o Ensino Médio. Penso que é porque parei de estudar, me casei e era

a esse tipo de leitura que eu tinha acesso, na época. E, por incrível que pareça,

sinto que essas leituras ajudaram-me a passar por um período espinhoso da

minha vida, que foram 10 anos aproximadamente.

A outra referência é meu filho mais velho, porque ele adora ler e vive

compartilhando suas experiências literárias comigo. Quando ele e o irmão eram

pequenos, eu copiei o hábito do meu pai de ler para eles, todos os dias, antes

que eles dormissem. Lembro-me bem que o livro que eles mais gostaram foi o

“Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol. Lemos muitos livros,

principalmente os clássicos (A Pequena Sereia, Cinderela, A Branca de Neve,

A Rainha da Neve, etc) em traduções de versões sem muitas modificações e

mais próximas das originais, que costumam ter finais macabros, inclusive.

Hoje, meu filho é um "devorador de livros", lê muito mais do que eu, coisas

variadas. Já aprendeu sozinho a língua inglesa, lendo livros nesta língua e

procura aprender, também sozinho, outras línguas como o Alemão e o

Japonês. Ou seja, meu filho tornou-se um exemplo de leitor para mim.

Casei-me jovem, com homem que me proibia de estudar e trabalhar.

Mas a sede de conhecimento conseguiu me retirar do “mundo encantado de

Amélia”. Como não havia mais a possibilidade de estudar para um curso como

os mencionados acima, fiz vestibular para Pedagogia, que era um curso que eu

poderia fazer em metade do período e havia ônibus da prefeitura de Silvânia,

cidade onde eu morava, que levava os alunos e buscava em Anápolis, cidade

onde fiz meu curso. Tive a sorte de ter excelentes professores e, ao iniciar o

curso, tive a certeza de que ser professora era o que eu mais queria ser. Nesse

aspecto, as artimanhas do acaso estiveram a meu favor.

Vários livros foram muito importantes para a constituição da pessoa que

sou hoje. Memórias de uma Gueixa, por exemplo, é um livro maravilhoso (narra

em detalhes a formação e os percalços pelos quais uma gueixa passa) que fez

com que eu assimilasse elementos que me proporcionaram forças e

argumentos para levar a cabo o meu divórcio, coisa que foi indispensável para

que eu continuasse viva. Mesmo. O Último Bailarino de Mao, uma

extraordinária autobiografia de Li Cunxim, um bailarino, coreógrafo

respeitadíssimo na atualidade tem um valor emocional especial pra mim,

porque o li assim que

Mas o livro que pegou o meu cérebro e virou do avesso foi Vigiar e

Punir, do Foucault. Li esse livro a pedido de um professor de Filosofia da

Educação, no curso de Pedagogia, em 2003, se não me engano. Eu já havia

entrado em contato com o pensamento marxista, por meio de alguns textos

avulsos e aulas dos professores do curso. É importante ressaltar que na minha

época escolar (Ensino Fundamental e Médio), eu não tive acesso a nenhum

tipo de leitura crítica. Nunca havia estudado Filosofia, Sociologia, não tive aulas

decentes de Artes, no geral. O Ensino Fundametal foi feito até a antiga 3ª série,

na zona rural, em sala multisseriada. Quando meu pai percebeu que minha

aprendizagem estava deficiente, enviou-me para morar com meus avós e

estudar em colégio de freiras. Nessa escola eu tive uma educação de menina.

É, inclusive, interessante ressaltar que no colégio eu conseguia, quase sempre,

tirar as melhores notas da sala. Quando fui para o Ensino Médio, as salas eram

mistas (com rapazes e moças) e, por mais que tentasse, não conseguia de jeito

nenhum alcançar os primeiros lugares. Eles eram sempre dos meninos,

egressos do Ginásio Anchieta, colégio exclusivo para o ensino fundamental ,

antigo 1º grau, dos meninos da cidade, na época.

Disse tudo isso para demonstrar que eu via o mundo, de um certo modo,

como neutro. Acreditava que conseguiria ter uma vida melhor por meio dos

estudos e que quem não conseguia era preguiçoso, não se esforçava, etc.

Portanto, ler Vigiar e Punir foi dilacerador. Foucault faz um histórico da

violência nas prisões, das punições exercidas sobre criminosos ao longo do

tempo, para concluir escancarando o modo como as relações de poder estão

infiltradas em cada instituição social, como somos vigiados uns pelos outros e

pelo estado. Vigiar e Punir mudou a forma como eu vejo o mundo, abriu portas

para a crítica a determinados tipos de leitura (porque eu não sabia selecionar

as minhas leituras) e plantou em mim a necessidade de estudar Filosofia, o que

fez e faz com que eu procure e selecione melhor minhas leituras.

A Karol quis saber quais livros eu tenho em casa e esta foi uma tarefa

bem difícil, porque eu tenho muita coisa e fazer uma lista seria até cansativo.

Portanto, vou citar o que é mais importante para mim, no momento da escrita

deste ensaio. Tenho muita coisa, mas ainda tem muita coisa que eu quero ter.

Estou fazendo minha pequena biblioteca de Filosofia. Já tenho A Política e a

Ética a Nicômaco do Aristóteles, A República de Platão, A Paideia do Jaeger,

Antígone, Édipo Rei, Édipo em Colono, Electra, Agamênon, Os Persas, As

Bacantes, algumas versões da Odisseia e da Ilíada de Homero ( mas nenhuma

do jeito que eu quero, ainda), Alguns livros do Vernant e do Vidal-Naquet, para

a minha pesquisa, algumas obras de Rousseau, Platão, Nietzsche,

Wittgenstein, Hannah Arendt, Kant. Alguns livros infantis de mitologia grega e

alguns pelos quais sou apaixonada ( O Lobo Negro,O Prato Azul Pombinho da

Cora e uns 20 livros que guardo comigo porque acho que são bons para contar

as histórias na sala de aula: ou porque as histórias são boas, mais originais ou

porque podem auxiliar na aquisição do processo de leitura e escrita.

Sobre as minhas leituras da adolescência, tenho a dizer que lia mais na

época das férias. Minha família tinha uma pequena chácara para onde íamos.

Na verdade meu pai morava lá sozinho e minha mãe ficava conosco na cidade.

Aos finais de semana e nas férias íamos para lá. Na adolescência eu não

gostava de ir, então, dava um jeito de não ir aos finais de semana e ficava na

casa da minha avó. Mas nas férias eu não tinha escolha, então pegava livros

na biblioteca ou pedia emprestado ao um tio meu que tinha alguns livros numa

estante. Lembro-me bem de ler Olhai os Lírios do Campo, do Veríssimo, vários

livros da série Vaga-Lume, Meu Pé de Laranja Lima, O Menino do Dedo Verde

de José Mauro Vasconcelos, A Ilha Perdida, Robinson Crusoé, Poliana Menina,

moça e mulher, Memórias de um Gigolô (Marcos Rey - esse livro eu peguei

escondido na estante de um tio meu, depois foi um “bafafá”, porque eu era bem

nova. Os adultos me perguntavam com semblante irônico sobre o que eu

estava achando do livro e eu respondia que era uma história de um dono de

fábrica de carros e que não estava entendendo bem. Mentia e achava que

acreditavam, porque eu ainda não tinha entendido bem o significado da palavra

“gigolô”. O livro era bem grosso e eu só fui entender do meio do livro pra frente.

Depois, logo no 1º ano do Ensino Médio, tornei-me espírita e minhas leituras se

restringiram à literatura deste segmento. Romances, livros explicativos da

doutrina espírita, etc.

Sobre a minha formação leitora na escola, infelizmente não me lembro

de ter nenhuma leitura obrigatória. Estudei em colégio de freiras da 4ª à 8ª

série. Considero que minha educação foi bastante tecnicista. Os professores se

limitavam aos textos do livro didático, que era comprado e precisava ser

“vencido”. Não me lembro nem de visitar a biblioteca da escola, que não era

pequena, mas nunca estava aberta aos alunos. Era restrita às freiras do

colégio.

Em relação às leituras da faculdade, fazia pesquisas para além do que

algum professor tinha solicitado, dependendo do meu interesse. Foi na

faculdade que entrei em contato com as ideias de Marx, Foucault, Altusser,

Saviani, Paulo Freire, etc. Para quem estava acostumada com a literatura paz

e amor, aquilo pra mim foi um soco no estômago. E eu adorei. Mas as

exigências da faculdade não davam muito tempo pra leituras literárias ou

paralelas. Tinha duas crianças pequenas, era bem complicado, inclusive. Mas

entrei na faculdade e saí outra. Quando terminei a faculdade, li toda a

sequência “Crepúsculo” pra descansar a mente, porque meu filho mais novo

queria ler e, na época, minha cunhada me advertiu que era uma leitura pesada,

que se tratava de vampiros. Imaginem que nem na época de término da

faculdade eu ainda não conseguia discernir muito bem literatura clássica de

literatura de massa. A verdade é que eu não sei muito bem quando isso se

deu. Talvez depois que meu filho mais novo começou a se profissionalizar em

ballet clássico, onde entrei em contato com obras clássicas verdadeiras, como

as tragédias preparadas exclusivamente para o Ballet, como Giselle, O

Corsário, La Bayadére, La Fille Mal Gardée e até mesmo O Lago dos Cisnes,

que é a obra mais conhecida nesse segmento. Na Faculdade de Filosofia,

entrei em contato com as obras dos filósofos clássicos, o que também abriu

portas para as tragédias gregas e epopéias, principalmente.

Sobre leituras livres e obrigatórias, na época da escola, lembro-me das

leituras livres, até porque não tive as obrigatórias. Tinha exercícios

intermináveis, obrigatórios. Mas leituras, não. O projeto educacional da ditadura

funcionou bem. Na época da faculdade, penso que as leituras obrigatórias

foram essenciais para o meu ampliar minha visão sobre o mundo e minha

prática pedagógica.

Se pudesse, eu mudaria a minha história de leitura. Teria entrado em

contato com os clássicos desde cedo e me habituado a eles muito antes, para

aproveitá-los, mesmo. Teria lido todas as obras de Shaekespeare, Dostoiévsky

e Machado de Assis. Mas mesmo assim, considero-me leitora, porque sempre

estou lendo alguma coisa. Atualmente estou me dedicando ao mestrado que eu

sonhei em fazer por tanto tempo (mais especificamente 10 anos), então,

dedico-me às leituras referentes ao meu projeto o máximo que posso e tenho

aprendido muito com isso. Não posso deixar de dizer que a disciplina sobre

Metodologia no Ensino de Literatura que fizemos no CEPAE ajudou muito com

o referencial teórico que fundamenta meu estudo, mas também para a vida. A

professora Célia nos ensinou a ler poemas decifrando-os, o que tentei

reproduzir com meus alunos, na leitura da Teogonia e eu acho que funcionou

super bem, apesar de todos os percalços normais no dia a dia de uma escola.

É desafiador saber que ainda existem tantas obras que eu gostaria de

ler. Talvez isto seja um estímulo para a própria preservação da vida, em dias

tão sombrios como os que estamos vivendo na atualidade.

Em sala de aula eu tento ser uma professora melhor do que meus

próprios professores foram comigo. Algumas vezes eu penso que consigo, mas

muitas, não. Contudo, compreendi que os livros devem estar disponíveis para

as crianças, principalmente quando são pequenos e se interessam mais,

porque ainda não criaram aversão. Penso, inclusive, que devemos pensar nos

motivos porque algumas crianças, a maioria talvez, não têm o hábito da leitura.

Portanto, acredito que memória e afetividade influenciam sobremaneira nas

minhas práticas como professora, porque, com certeza, não reproduzo aquilo

que eu penso não ter dado certo comigo, ou que me limitaram como leitora.

Faço questão de levar meus alunos à biblioteca, de dar incentivos aos que

mais leem, de levar gibis e livros para a sala de aula com frequência, leio uma

história todos os dias, mesmo para os maiores (6º ano), tento apresentar

autores consagrados, como Bartolomeu Campos Queirós, Ana Maria Machado,

Silvya Orthof, Ruth Rocha, Manoel Bandeira, Cecília Meireles, dentre outros.

Este texto é escrito em uma época estranha. Utopicamente,

acreditamos, quando jovens em tempo escolar, em uma história linear, na qual

fatos como o avanço tecnológico e o fim da ditadura militar no Brasil prometiam

um futuro livre de preconceitos, numa sociedade em que o conhecimento seria

disponível para qualquer pessoa. Pensávamos, inclusive, que a escola e a

figura do professor seriam dispensáveis, porque cada qual poderia ir em busca

do conhecimento desejado por si mesmo, já que estaria disponível nas redes,

bastaria se dispor a pesquisar. Contudo, ao contrário, vivemos tempos

sombrios em que todas essas supostas conquistas estão ameaçadas por uma

avalanche de notícias falsas na internet, jornais e revistas e as liberdades

individuais conquistadas à custa de suor, sangue e lágrimas por diversos heróis

e revolucionários, sendo ameaçadas por uma onda de facismo e ódio que se

repete não só no Brasil, mas em diversos países do mundo.

Para finalizar, vou replicar aqui, uma postagem que fiz no facebook, em

homenagem aos meus alunos do curso de Pedagogia, que também eram

professores, em 2013 ou 2014. Replico porque essas reflexões, hoje, são mais

atuais que naquela época.

Homenagem aos meus alunos/professores

Sabem porque eu não mudo de profissão devido às condições, muitas vezes,

sub-humanas a que os professores são submetidos? Porque eu acredito que

ser professor é uma das maneiras mais nobres de se viver. Se isto for feito com

dignidade. Porque o conhecimento é a única coisa, que ninguém, nunca,

poderá tirar de mim ou dos meus alunos. Meu sonho é torná-los, através do

conhecimento, LIVRES! Livres para poderem escolher que atitude terão em

relação a cada coisa que a vida cotidiana lhes pede ou lhes impõe. Ser

professor é ter a chave para mudar o mundo! Pena que nós, professores, ainda

não enxergamos isso!

A Alemanha, na época anterior à instauração do nazismo, era um país bastante

desenvolvido no que diz respeito à educação. Como explicar que as pessoas

comuns, indivíduos aparentemente regidos por uma moral, notadamente os

pais de família de comportamento exemplar, mudaram de perspectiva de uma

hora para a outra e aderiram ao nazismo e seus ideais de “raça pura”, tornando

possível um dos fatos mais atrozes e absurdos da humanidade? É

impressionante a facilidade com que o regime se instalou na Alemanha e

causou um fenômeno que levou seres humanos a serem considerados

“supérfluos”. Hitler teve um largo apoio público.

Como, um país com uma educação tão desenvolvida pode se envolver num

movimento que provocou tanta barbárie? Então a educação daquele povo não

serviu pra nada? Qual o papel dos professores nesse processo?

Hannah Arendt diz que as pessoas obedientes são as mais perigosas.

Parece estranha e absurda esta afirmação, mas se considerarmos que os

obedientes são aqueles que seguem as regras estabelecidas por terceiros e

que estas, dependendo da situação, podem ser modificadas, deduzimos que os

seguidores obedientes das normas podem mudar de opinião (postura),

juntamente com as regras. Foi uma situação similar que tornou o nazismo

possível. Parece menos perigosa a maldade das pessoas más e mais

destrutiva a de pessoas comuns, que se colocaram a serviço de uma obra de

destruição de massa, que cometeram crimes secretos e seguiram vivendo em

“paz".

Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de

concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores:

“Prezado Professor, Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus

olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas

por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados.

Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados

e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas

suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se

humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou

psicopatas hábeis. Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer

nossas crianças mais humanas."

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