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Memórias Literárias por Joyci Viegas

Cresci em meio a livros, discussões políticas, reuniões e conspirações. Como eu amava deitar no sofá e ouvir a conversa dos adultos! Meu pai figura interessante que tudo questionava: Deus existe? Por que existe a pobreza? Que bobagem cantar o hino nacional. Lê aqui comigo o livro desse russo. Olha onde fica Cuba. Olha a União Soviética. Caiu o Muro de Berlim. Fora Collor. Greves, arrocho salarial….Nomes que me soavam estranhos, perguntas que muitas vezes não entendia. Marcas profundas na minha alma, hoje vejo essa mesma história se repetindo em relação ao meu pai com seus netos….

As leituras que marcaram minha infância na escola muito se relacionam a uma professora de português, Josefa, O Estudante 1, 2 e 3, produção de redação e o amor a língua portuguesa.. Já na adolescência tive minhas leituras marcadas pelos sentimentos de descobertas e melancolias: Cartas ao meu pai, Metamorfose e O processo. Poesias de Florbela Espanca era meu livro de cabeceira, que se misturavam aos amores não correspondidos, frustrações, lágrimas, músicas e mais lágrimas.

Clarice Lispector, Pablo Neruda, Drummond, temas como Ditadura Militar, maio de 1968, Tortura Nunca Mais, O Manifesto Comunista, Filosofia e música rodeavam minha vida de adolescente.

O curso de história se iniciou em 2003 e na minha inocência dos 17 anos não havia passado pela minha cabeça que em um futuro próximo me tornaria professora. Sempre fui muito ligada ao passado, um passado que vive na memória dos meus pais e por isso iniciei meus estudos em história.

Rosa Luxemburgo, Alexandra Kolontai, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Machado de Assis, Paulo Freire , Karl Marx, Hobsbawn, Gilberto Freyre tantas referências que hoje a partir desse processo de reconhecimento, já me identifico como uma professora de história. Desde o início em 2007 venho me construindo e me descobrindo, com inúmeros erros, alguns acertos e certo encantamento por essa profissão. Afinal quem ensina e quem aprende no fim das contas?

A liberdade do pensar, da crítica, do movimento, da expressão em resumo, a construção da autonomia é o que orienta o meu pensar e a minha prática atualmente. Penso que a experiência me trará em grande medida a prática da liberdade e os limites, tão fundamentais para o estabelecimento dos vínculos no processo ensino- aprendizagem. Mas confesso que em alguns momentos me arrependo de seguir esse caminho da “construção da autonomia” em um ambiente baseado em relações autoritárias.

Mas não poderia ser de outra forma, sigo então, criando espaços, me atentando aos processos e caminhos de conhecimento, olhando nos olhos e ouvindo meus companheiros de caminhada; os estudantes. Construo minha própria autonomia através deles, e a partir desse princípio que me enche de “paixão” por essa vida de ser, estar e viver professora.

Mary Baleeiro. Aquarela Joyci.fev.2019. 15x21

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